GLEYDISON MEIRELES - As
facções criminosas enraizadas em solo acreano faz lembrar a criatura
mitológica Hidra de Lerna, um dragão com várias cabeças e que toda vez
que uma dessas cabeças era cortada outras duas nasciam no lugar. Certa
vez a Hidra foi citada por Emylson Farias, que na época ocupava o cargo
de Secretário da Polícia Civil, durante uma coletiva de imprensa.
A reportagem do OPINIÃO teve acesso,
com exclusividade, às informações sobre reuniões realizadas pelas novas
lideranças da facções criminosas existentes no Acre, duas em menos de
uma semana. Conversou também com a esposa de um dos líderes do Bonde dos
13 que depois dos ataques do ano passado foi enviado para um presídio
de segurança máxima fora do Estado. Ela falou sobre o poder de
organização do bando criminoso revelando que no Acre são quase mil
membros.
Na última semana a Polícia Militar,
por meio da Companhia do Batalhão Ambiental, Companhia de Trânsito,
Guarda Penitenciária e patrulhamento da área realizou uma operação nas
imediações da Vila Jorge Kalume, Estrada do Barro Vermelho, no Bairro
Distrito Industrial para monitorar uma reunião de pessoas envolvidas com
as facções criminosas Bonde dos 13 (B13), Comando Vermelho (CV) e
Primeiro Comando da Capital (PCC). De acordo com policiais militares
participaram do “evento do crime” cerca de 300 pessoas, a maioria delas
com passagens pelo sistema prisional por envolvimento com o tráfico de
drogas e roubos (assaltos). A ofensiva foi comandada pelo
Primeiro-tenente Veríssimo, sob a coordenação do Coronel Marcos Kimpara,
comandante da Diretoria de Operações da Polícia Militar.
Como
não tinha um mandado judicial para adentrar a reunião dos lideres das
facções, os militares realizaram barreiras nas imediações e chegaram a
apreender vários veículos (carros e motos) pertencentes aos
participantes do evento e que estava em situação irregular.
A reportagem conversou com o Coronel
Marcos Kimpara. O oficial afirmou que a PM foi alertada sobre a reunião
por meio de uma denuncia anônima e preparou a operação. Kimpara disse
ainda que apesar de identificar várias pessoas cumprindo pena no regime
semiaberto e com passagens pelo sistema prisional não ficou comprovada
que a reunião era de líderes de facções criminosas.
“Recebemos a informação por meio de
denuncia anônima e de pronto realizamos a operação nas imediações do
local onde supostamente acontecia o evento, foi uma operação de
monitoramento onde verificamos a situação de pessoas e veículos. Alguns
carros e motocicletas, que estavam em situação irregular foram
recolhidos ao pátio do Detran, mas não foi confirmado que o evento se
tratava de uma reunião de líderes de facções criminosas”, comentou
Kimpara, destacando ainda que o governo do Acre, por meio das forças de
Segurança Pública estão alerta para combater a criminalidade.
No sábado, 28, uma nova reunião dos
lideres das facções foi realizada, desta vez o encontro aconteceu em um
sítio localizado no Ramal do Pica-Pau, região do bairro Vila Acre.
Novamente a Polícia Militar realizou o monitoramento no local.
“Todo bandido quer ser do Bonde”
A frase é de uma esposa de um dos
líderes do Bonde dos 13, facção criminosa criada a cerca de cinco anos
nos presídios acreanos e quem nos últimos anos tem tirado o sono dos
operadores de segurança pública do Estado. A
reportagem do OPINIÃO teve uma rápida conversa com a esposa de um dos
líderes do Bonde dos 13 que, entre outras coisas, falou sobre o poder de
organização do bando no Acre. A entrevista só aconteceu depois que a
reportagem garantiu manter a identidade da entrevistada em sigilo. O
encontro aconteceu na casa de um dos membros da facção localizada na
Baixada da Sobral.
Jovem, bem vestida, estudante
universitária e acima de qualquer suspeita, esse é o perfil da mulher de
pouco mais de 25 anos e que a 10 vive com um homem envolvido com vários
crimes, entre os quais tráfico de drogas e roubo, o conhecido assalto.
A mulher relata que quando se envolveu
com seu companheiro já sabia de sua vida de crimes, mas sempre se
manteve distante do “trabalho” do companheiro.
“Sempre
soube da sua vida, sabia que era envolvido com o tráfico e com roubos,
além de outros delitos de menor poder ofensivo, mas o amor que sinto por
ele é bem maior que isso tudo. Ele sempre me respeitou e respeitou
nossos filhos (um casal), nunca trouxe droga pra dentro de casa, nunca
trouxe roubo, tudo que ele faz é bem longe de casa. Quando ele se juntou
com os outros companheiros para criar o Bonde ele me ligou e falou tudo
que estava acontecendo, então, eu sempre soube do que ele faz, mas não
me importo. O mais importante disso é que temos uma vida confortável,
nossos filhos tem tudo o que querem, temos uma casa boa, carro e
dinheiro”, disse a estudante universitária que cursa direito em uma
universidade particular em Rio Branco.
A esposa do líder disse ainda que a
facção tem uma organização semelhante a de uma empresa, com cada membro
com uma função bem definida. Ela revelou também que o B13 tem hoje no
Acre quase mil membros e que a sua maioria são pessoas acima de qualquer
suspeita. “Os líderes trabalham
em uma espécie de conselho, onde as decisões são tomadas em conjunto.
Hoje todo bandido quer fazer parte do Bonde, mas o grupo tem se
organizado a cada dia, cada vez mais tem pessoas querendo ‘trabalhar’
para o B13, hoje tem quase mil pessoas na rua que fazem parte do grupo,
muitas delas pais e mães de família, jovens universitários, que atuam em
outras atividades que não são o tráfico e nem o assalto”, revelou a
jovem enfatizando ainda que a organização criminosa está um passo a
frente das forças de segurança pública estadual.
Agepens em alerta
A
notícia da reunião com as lideranças dos grupos criminosos rapidamente
se espalhou pelos grupos de whatsApp dos operadores de segurança e
deixou vários setores da Segurança Pública acreana em alerta, entre ele
os agentes penitenciários (agepens). O sindicato da categoria emitiu um
comunicado alertando os agepens para qualquer tipo de ação contra a
categoria.
De acordo com
Adriano Marques, presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do
Acre (Sindap/AC) é preciso que todos se mantenham em alerta e tenha
cautela permanente. “Não queremos
que aconteça com os colegas o que aconteceu no passado quando vários
agepens foram mortos de forma covarde. É preciso que fiquemos alerta, já
que as reuniões dos lideres criminosos voltaram a acontecer, e
certamente essas reuniões são para planejar novas ações criminosas”,
disse Marques.
Fonte: http://www.jornalopiniao.net/2016/index.php/policia/1715-policia-monitora-reuniao-de-lideres-de-faccoes-na-estrada-do-barro-vermelho
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