quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
Documentos revelam como PCC atua nos presídios e quais os planos da facção para o Acre
Da redação ac24horas19/02/2015 08:38:57
Documentos vazados de dentro dos departamentos que administram
o setor de Segurança Pública do Acre mostram que o Primeiro Comanda da
Capital (PCC) ainda pode estar atuando fortemente nos presídios
acreanos. Material remetido ao ac24horas mostra que a
morte de agentes penitenciários e de policiais militares pode ter
envolvimento com facções criminosas instaladas no Complexo Penitenciário
Dr. Francisco de Oliveira Conde.
A reportagem teve acesso exclusivo ao depoimento de um dos presos da
facção criminosa chamada BONDE DOS 13, grupo supostamente financiado
pelo PCC. Uma espécie de estatuto do grupo instalado no Acre também foi
encaminhado à redação.
Segundo depoimento colhido no último dia 8 de fevereiro, por uma
equipe do Instituto de Administração Penitenciária (Iapen), lotada na
Unidade de Regime Fechado 1 de Rio Branco (UFR-1/RB), um dos presos,
cujo nome será mantido em absoluto sigilo, contou à autoridade prisional
de como atuavam os membros da facção BONDE DOS 13, e deu detalhes dos
passos que seriam dados nos próximos dias.
Num primeiro momento, “o preso disse que teria informações
importantíssimas para falar ao chefe de equipe”, e ao ser dada a
oportunidade, “o preso começou a informar sobre uma facção criminosa que
atua dentro do presídio” de Rio Branco, e destacou “a morte dos dois
agentes penitenciários, assassinados recentemente”, contou em oitiva.
Segundo o delator do grupo criminoso, as mortes teriam “relação
direta com o grupo BONDE DOS 13”. O reeducando contou ainda que “a ordem
atual era para matar agentes penitenciários e policiais militares”,
além de “tocar fogo em escolas, postos de saúde, ônibus e carros”, no
intuito de “aterrorizar a sociedade de forma geral”, informou o preso.
O membro-delator da facção no Acre alertou que podem existir armas de
fogo nas dependências do presídio riobranquense. O presidiário
esclareceu ainda onde estariam os responsáveis pela facção. Segundo ele,
a “facção se encontra nos alojamentos 02, 03, 04, 05 e 06” e também que
“a força maior da facção se concentra nos alojamentos 02 e 04”,
argumenta.
De acordo com o comunicado feito à diretoria da UFR-1/RB, o preso,
após contar detalhes dos planos formulados pelos membros da facção,
tentou se matar com um cadarço de sapato. Mesmo assim, o detento foi
socorrido pelos agentes que estavam de plantão.
Segundo informações, a tentativa de suicídio teria acontecido na cela
da guarda, local chamado também de área para “controle de fluxo”, onde,
após depor, o detento ficou mantido, para evitar retaliações dos demais
presos, caso houvesse vazamento de depoimento.
CAIXA DO CRIME
Além de ter tido acesso ao depoimento, o ac24horas conseguiu,
com exclusividade, parte do regimento interno dos participantes da
facção criminosa BONDE DOS 13 . Segundo o documento, apreendido pela
Polícia Militar (PM) durante uma recente varredura, situação em que mais
de 65 celulares foram apreendidos, o grupo regimenta a postura dos
membros e fala sobre penas pós-descumprimento de regras, ao utilizar
palavras como “lealdade”, “liberdade, “justiça” e “igualdade”.
O item três do documento diz o seguinte: “todo integrante do comando
tem por direito de expressar opiniões e tem o dever de respeitar a
opinião de todos, sabendo que dentro da organização tem uma hierarquia e
disciplina a ser seguida e respeitada aquele integrante que qualquer
divisões dentro do comando desrespeitando esses critérios será excluído e
decretado”, diz o documento.
No quinto item do regimento, os detentos afirmam que os membros da
organização criminosa, que já estiverem livres, terão a obrigação de
participar de “projetos que venham criar soluções e amparo social e
financeiro para apoiar os integrantes desamparados e descabelado”,
explica o documento que sugere ao mesmo tempo que os libertos podem,
inclusive, cometer crimes para financiar a família de detentos que ainda
estiverem em regime fechado.
Uma suposta ficha financeira do grupo, chamada de DARF [originalmente
Documento de Arrecadação da Receita Federal], referente ao mês de
dezembro, mas com data de vencimento para o dia 02 de janeiro passado,
mostra que 37 presos podem estar recebendo auxilio financeiro oriundo do
mundo do crime. Sem estipular valores, a relação aponta que apenas um
deles já foi pago.
“Paraguai”, “Marronzinha”, “Linha Negra” e “Mizuno”, são alguns dos
nomes listados na relação de pagamentos que deveriam ter sido realizados
pela facção BONDE DOS 13.
Por motivos de segurança, diversos dados obtidos pelo ac24horas
serão mantidos em sigilo para não prejudicar as fontes do portal e,
ainda, para que não sejam atrapalhadas as investigações do Ministério
Público do Estado do Acre (MP-AC) e da Secretaria de Estado de Polícia
Civil (SEPC), que, segundo informações, seguem avançando e podem, já nos
próximos dias, identificar detentos e puni-los, causando, inclusive,
transferências de lotação prisional.
INVESTIGAÇÃO
De posse de toda a documentação, a reportagem do ac24horas
procurou o Ministério Público do Estado do Acre. Na sede da entidade,
localizada no Centro de Rio Branco (AC), o encontro foi com os
promotores membros do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado (Gaeco).
Apresentados os documentos, questionamos se o material já havia sido
recebido pelo MP, mas os promotores afirmaram que não tinham
conhecimento sobre os documentos.
Mesmo assim, o MP se comprometeu em averiguar com os demais
departamentos do órgão, se existem investigações ligadas às afirmações
apresentadas pelo preso, em depoimento oficial.
REPRESSÃO
A Secretaria de Estado de Polícia Civil (SEPC) também recebeu a reportagem do ac24horas.
Em entrevista, o secretário adjunto da pasta, Alex Cavalcante, comentou
que “toda e qualquer informação que chegar ao conhecimento da Policia
Civil” será investigada.
Para o gestor, o que não se pode é chegar a “conclusões precipitadas,
até porque o trabalho da Polícia Civil é um trabalho
técnico-científico”, o que requer cuidado e exatidão. O secretário
esclareceu ainda que é muito pouco provável que haja dinheiro dentro do
presídio, “pelo menos não em grandes proporções”, assegura.
Sobre uma possível interferência federal, no intuito de resolver as
problemáticas existentes no complexo penitenciário do Estado, Alex foi
bastante objetivo e disse à reportagem que “a própria Constituição
oferece alguns requisitos” para isso. Mesmo assim, o secretário fez
questão de dizer que em caso de intervenção, “como toda e qualquer ordem
partida da União” o que for “de competência da Polícia Civil será
cumprido com responsabilidade”.
Sobre o trabalho da Polícia Federal no Acre (PF-AC), Cavalcante
explica que a relação tem sido de parceria. Ainda segundo o chefe da
polícia judiciária estadual, “a Polícia Federal não tem atropelado esse
processo [de parceria], e obviamente que existe uma troca e um
compartilhamento de informações entre os órgãos”, destacou Alex ao
comentar sobre uma possível investigação paralela do órgão, referente à
atuação de facções criminosas no Acre.
Alex Cavalcante descartou a possibilidade. “A Polícia Federal sabe de
suas atribuições, e uma investigação feita de um assunto que não
pertence a uma atribuição dela, pode causar a nulidade do procedimento.
Então, sabedores disso, certamente eles tem esse cuidado”, argumenta o
gestor.
DEPOIMENTO
Questionado se a documentação apresentada, principalmente o
depoimento de um suposto preso, situação na qual se afirma quais serão
os próximos passos do PCC no Acre, o secretário adjunto diz que a
Inteligência do órgão tem trabalhado constantemente para identificar e
punir responsáveis.
“Nosso serviço de inteligência age em prol da investigação e também
preventivamente. Você não pode ir agindo simplesmente porque chega a
informação, mas, depois de tudo ser depurado, aí sim, a polícia toma as
providencias cabíveis e repreensíveis (sic)”, comentou o gestor.
OPERAÇAO DIÁSPORA
Trinta e nove mandados de busca, apreensão e de prisão foram
executados em fevereiro de 2013 para desarticular a atuação do Primeiro
Comando da Capital (PCC) no Acre. Em três meses de investigação,
utilizando como base 2.160 horas de escutas telefônicas autorizadas pela
Justiça, o serviço de inteligência da Polícia Civil identificou todo
esquema de trabalho do grupo criminoso.
No Acre, o líder do PCC, Tiago da Silva Gomes (conhecido como Mestre
dos Magos ou Paciência) mantinha contato com outros dois presos em
penitenciárias localizadas no interior de São Paulo e no Mato Grosso. As
ordens e orientações eram emitidas pela dupla a partir dos presídios.
Dos 39 presos, apenas cinco estavam livres. Os demais ou já cumpriam
pena ou foram presos recentemente.
O Ministério da Justiça chegou a autorizar a transferência dos seis
presos considerados, pela polícia, os mais perigosos do grupo. Além
disso, seis contas bancárias utilizadas pelo grupo para transações
criminosas foram bloqueadas pela Justiça e foram alvos de investigação.
Durante as prisões efetuadas foi apreendido um livro que registrava
toda a movimentação contábil do PCC no Acre. “Para os integrantes do
PCC, ser preso, às vezes, é até um prêmio porque significa uma
progressão dentro da própria organização criminosa”, explicou o então
secretário de Estado de Polícia Civil, Emylson Farias.
Fonte: http://www.ac24horas.com/2015/02/19/documentos-revelam-como-pcc-atua-nos-presidios-e-quais-os-planos-da-faccao-para-o-acre/
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