segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
Documentos revelam nomes, contas bancárias, valores e telefones de pessoas ligadas ao PCC no Acre
No último dia 19 deste mês, a reportagem do ac24horas revelou
que documentos vazados de dentro dos departamentos que administram o
setor de Segurança Pública do Acre mostram que o Primeiro Comando da
Capital (PCC) ainda pode estar atuando fortemente nos presídios
acreanos. A reportagem fez ligações das mortes de agentes penitenciários
e de policiais militares, e percebeu que os fatos podem ter
envolvimento com facções criminosas instaladas no Complexo Penitenciário
Dr. Francisco d’Oliveira Conde.
Agora, novos documentos recebidos pelo portal confirmam que existe
uma suposta rede criminosa atuando dentro e fora dos presídios do Acre.
Segundo os documentos, dinheiro movimentado em contas particulares pode
estar financiando as práticas de crimes, dentre eles assassinatos e o
tráfico de drogas.
Numa das relações obtidas com exclusividade pela reportagem de ac24horas,
ficam legíveis os nomes dos possíveis membros da Facção Criminosa BONDE
DOS 13, que, segundo apurado, é financiada pelo Primeiro Comando da
Capital (PCC), considerado um dos maiores grupos criminosos do Brasil.
As relações de pagamentos são, na verdade, as chamadas “rifas”, ou seja:
o relatório de distribuição de contribuições financeiras feitas pelos
criminosos, ou para manter o tráfico dentro dos presídios do Acre, ou
para sustentar as famílias dos presidiários, que estão do lado de fora
dos complexos prisionais.
O material é semelhante ao apreendido no último dia 6 de fevereiro
deste ano, durante uma faxina nas celas do Francisco d’Oliveira Conde,
localizado no Distrito Industrial, em Rio Branco (AC). Juntamente com os
documentos foram encontrados quase 70 celulares, drogas e armas
brancas. O fato demonstrou a fragilidade ainda vivida pelo sistema
prisional do estado do Acre. No dia seguinte à apreensão, autoridades da
Segurança Pública estadual reuniram a imprensa para comentar as
apreensões.
Para o secretário da pasta, Emylson Farias, o Estado não vai tolerar
qualquer “tipo de crime” e afirmou que haverá respeito aos “direitos dos
presos e de seus familiares”.
Por conta da conturbada situação dentro do presídio da capital,
naquela semana, haviam sido proibidas todas as visitas em presídios do
Estado. O fato gerou revolta e causou um principio de rebelião nas
unidades prisionais de todo o Acre. Atos como queima de colchões ou
mesmo “bater grade”, foram alguns das práticas realizadas pelos
detentos, em repúdio à proibição. Em tempo, o diretor-presidente do
Instituto de Administração Penitenciária (Iapen), Martin Hessel,
explicou como funcionou a faxina e destacou que o trabalho foi feito de
forma simultânea em todos as unidades do Estado. Além disso, sobre os
celulares apreendidos, o chefe do Iapen afirmou que todos os presos
envolvidos no uso dos aparelhos foram identificados e devem ser punidos.
Ao ser indagado sobre como esses celulares entraram no presídio, já
que, segundo o órgão, há uma rigorosa fiscalização na entrada do
presídio, inclusive com detectores de metais e raquetes, Hessel admitiu a
fragilidade do sistema. Está “havendo alguma falha”, assumiu o gestor.
Segundo apurado por ac24horas, o Acre está sendo
utilizado pelo Primeiro Comando da Capital, o PCC, como rota para o
tráfico de drogas. Os entorpecentes que passam pelo Peru, e entram no
território brasileiro pelas fronteiras do Estado, seriam distribuídos
por todo o país.
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O fato não é nenhuma novidade e já foi abordado em reportagens de
veículos de comunicação do Nordeste brasileiro. Um site de notícias da
Paraíba afirma que um estudo sigiloso feito em conjunto pelas gerências
de inteligência dos nove Estados do Nordeste revelou os caminhos
seguidos pelos narcotraficantes para escoar a droga das fronteiras
brasileiras até a Paraíba e os demais estados nordestinos.
Drogas como o crack, a cocaína e pasta à base de cocaína têm como
fornecedores traficantes da Bolívia e Colômbia. O material ingressa no
país através do Mato Grosso e é deslocada para a Paraíba e estados
vizinhos. O Peru, por não possuir condições de refino, fornece a pasta
de coca, que entra no Brasil pelo o Acre.
Em teoria, a facção criminosa paulista tem capacidade e recursos
suficientes para atuar como intermediária nesse processo, segundo o
procurador do Ministério Público do Estado de São Paulo, Márcio
Christino, especialista em investigações sobre o PCC. O jurista é autor
do livro Por dentro do Crime: Corrupção, Tráfico e PCC (Ed. Escrituras).
“Para se manter o PCC tem quer importar grandes quantidades de
cocaína. Eles já têm uma logística para trazer (a cocaína da Bolívia) e
distribuí-la (no Brasil). Por causa disso não teriam dificuldade para
embarcá-la ou revendê-la para outras organizações”, disse em entrevista à
BBC Brasil.
De acordo com o procurador, comprar do PCC seria uma vantagem para
outras organizações criminosas interessadas em operar rotas de
entorpecentes que passam pelo Brasil. Isso porque assim elas evitariam
os riscos de retirar a droga da Bolívia e cruzar a fronteira brasileira.
Contudo, segundo Christino, o PCC é uma organização “tipicamente
nacional”, que poder até vender drogas para máfias ou grupos
estrangeiros, mas não tem capacidade para distribuir o entorpecente em
outros países.
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“Ele pode atuar como um intermediário, mas não vai tentar entrar em
mercados já ocupados (por outras organizações criminosas)”, argumentou.
Se levada em consideração as afirmações do procurador de Justiça do
Estado paulista, e agrupar as informações aos fatos repassados ao ac24horas,
ficam praticamente certos os motivos de o PCC atuar dentro do Estado do
Acre. Seria, então, supostamente mais fácil, ingressar com a droga pela
fronteira do Acre e, consequentemente, haveria mais recursos
financeiros produzidos pelo crime do lado de fora dos presídios, o
viabilizaria o sustento dos familiares de presos nas ruas das cidades do
Acre.
Os documentos repassados ao portal, são semelhantes aos apreendidos
também pela polícia do Distrito Federal, no entorno de Brasília. Segundo
a assessoria da Polícia Federal (PF), os integrantes também eram
obrigados a comprar rifas, com bilhetes no valor de R$ 30 – fato que se
comprova nas imagens apresentadas nesta reportagem; os eram depositados
em contas bancárias.
Segundo investigação, ao todo, cada membro pagava cerca de R$ 700 por
mês para a cúpula da quadrilha. O dinheiro era levantado por meio de
crimes como roubo e tráfico de drogas. A investigação apontou, ainda,
que a mensalidade era chamada de “cebola”.
OPERAÇAO DIÁSPORA
Trinta e nove mandados de busca, apreensão e de prisão foram
executados em fevereiro de 2013 para desarticular a atuação do Primeiro
Comando da Capital (PCC) no Acre. Em três meses de investigação,
utilizando como base 2.160 horas de escutas telefônicas autorizadas pela
Justiça, o serviço de inteligência da Polícia Civil identificou todo o
esquema de trabalho do grupo criminoso.
No Acre, o líder do PCC, Tiago da Silva Gomes (conhecido como Mestre
dos Magos ou Paciência) mantinha contato com outros criminosos, presos
em penitenciárias localizadas no interior de São Paulo e no Mato
Grosso. As ordens e orientações eram emitidas pelos demais detentos a
partir dos presídios. Dos 39 presos durante a operação, apenas cinco
estavam livres. Os demais ou já cumpriam pena ou foram presos
recentemente.
O Ministério da Justiça chegou a autorizar, na época, a transferência
dos seis presos considerados, pela polícia, os mais perigosos do grupo.
Além disso, seis contas bancárias utilizadas pelo grupo para transações
criminosas foram bloqueadas pela Justiça e foram alvos de investigação.
Durante as prisões efetuadas, foi apreendido também um livro que
registrava toda a movimentação contábil do PCC no Acre. “Para os
integrantes do PCC, ser preso, às vezes, é até um prêmio porque
significa uma progressão dentro da própria organização criminosa”,
explicou o então secretário de Estado de Polícia Civil, Emylson Farias.
OMISSÃO PÚBLICA
Durante o preparo desta reportagem, ac24horas buscou
realizar entrevista com o diretor-presidente do Instituto de
Administração Penitenciária (Iapen). Martin Hassel não foi encontrado
para falar sobre o assunto, nem para receber as cópias da documentação
obtida exclusivamente pelo portal.
Em contato com a Secretaria de Estado de Segurança Pública (SESP), foi negada ao ac24horas agendamento
de entrevista individual com o chefe do sistema penal do Acre. Segundo a
Gerência de Comunicação daquele órgão, somente uma Nota de
Esclarecimento satisfaria os interesses do site.
Durante comunicação telefônica com a SESP, a reportagem foi
questionada sobre os assuntos e temática que seriam abordadas durante
entrevista com o chefe do Iapen. Prefirimos não antecipar as sugestões
de perguntas.
Além disso, a Gerência de Comunicação do órgão questionou por diversas vezes o que os documentos obtidos pelo ac24horas apresentavam
realmente. Mesmo assim, no dia seguinte, pela manhã de sexta-feira, 20,
data em que esta reportagem foi concluída, tentou-se novamente contato
com o órgão, mas a ligação não foi atendida e não houve retorno por
parte da assessoria do órgão.
Fonte: http://www.ac24horas.com/2015/02/23/documentos-revelam-nomes-contas-bancarias-valores-e-telefones-de-pessoas-ligadas-ao-pcc-no-acre/
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