quarta-feira, 1 de junho de 2016

Bonde dos 13 teria cerca de mil membros



GLEYDISON MEIRELESAs facções criminosas enraizadas em solo acreano faz lembrar a criatura mitológica Hidra de Lerna, um dragão com várias cabeças e que toda vez que uma dessas cabeças era cortada outras duas nasciam no lugar. Certa vez a Hidra foi citada por Emylson Farias, que na época ocupava o cargo de Secretário da Polícia Civil, durante uma coletiva de imprensa. 

A reportagem do OPINIÃO teve acesso, com exclusividade, às informações sobre reuniões realizadas pelas novas lideranças da facções criminosas existentes no Acre, duas em menos de uma semana. Conversou também com a esposa de um dos líderes do Bonde dos 13 que depois dos ataques do ano passado foi enviado para um presídio de segurança máxima fora do Estado. Ela falou sobre o poder de organização do bando criminoso revelando que no Acre são quase mil membros.

Na última semana a Polícia Militar, por meio da Companhia do Batalhão Ambiental, Companhia de Trânsito, Guarda Penitenciária e patrulhamento da área realizou uma operação nas imediações da Vila Jorge Kalume, Estrada do Barro Vermelho, no Bairro Distrito Industrial para monitorar uma reunião de pessoas envolvidas com as facções criminosas Bonde dos 13 (B13), Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC). De acordo com policiais militares participaram do “evento do crime” cerca de 300 pessoas, a maioria delas com passagens pelo sistema prisional por envolvimento com o tráfico de drogas e roubos (assaltos). A ofensiva foi comandada pelo Primeiro-tenente Veríssimo, sob a coordenação do Coronel Marcos Kimpara, comandante da Diretoria de Operações da Polícia Militar.
 
Como não tinha um mandado judicial para adentrar a reunião dos lideres das facções, os militares realizaram barreiras nas imediações e chegaram a apreender vários veículos (carros e motos) pertencentes aos participantes do evento e que estava em situação irregular.

A reportagem conversou com o Coronel Marcos Kimpara. O oficial afirmou que a PM foi alertada sobre a reunião por meio de uma denuncia anônima e preparou a operação. Kimpara disse ainda que apesar de identificar várias pessoas cumprindo pena no regime semiaberto e com passagens pelo sistema prisional não ficou comprovada que a reunião era de líderes de facções criminosas.  
 
“Recebemos a informação por meio de denuncia anônima e de pronto realizamos a operação nas imediações do local onde supostamente acontecia o evento, foi uma operação de monitoramento onde verificamos a situação de pessoas e veículos. Alguns carros e motocicletas, que estavam em situação irregular foram recolhidos ao pátio do Detran, mas não foi confirmado que o evento se tratava de uma reunião de líderes de facções criminosas”, comentou Kimpara, destacando ainda que o governo do Acre, por meio das forças de Segurança Pública estão alerta para combater a criminalidade.
No sábado, 28, uma nova reunião dos lideres das facções foi realizada, desta vez o encontro aconteceu em um sítio localizado no Ramal do Pica-Pau, região do bairro Vila Acre. Novamente a Polícia Militar realizou o monitoramento no local.

“Todo bandido quer ser do Bonde”

A frase é de uma esposa de um dos líderes do Bonde dos 13, facção criminosa criada a cerca de cinco anos nos presídios acreanos e quem nos últimos anos tem tirado o sono dos operadores de segurança pública do Estado. A reportagem do OPINIÃO teve uma rápida conversa com a esposa de um dos líderes do Bonde dos 13 que, entre outras coisas, falou sobre o poder de organização do bando no Acre. A entrevista só aconteceu depois que a reportagem garantiu manter a identidade da entrevistada em sigilo. O encontro aconteceu na casa de um dos membros da facção localizada na Baixada da Sobral.

Jovem, bem vestida, estudante universitária e acima de qualquer suspeita, esse é o perfil da mulher de pouco mais de 25 anos e que a 10 vive com um homem envolvido com vários crimes, entre os quais tráfico de drogas e roubo, o conhecido assalto.

A mulher relata que quando se envolveu com seu companheiro já sabia de sua vida de crimes, mas sempre se manteve distante do “trabalho” do companheiro.
 
“Sempre soube da sua vida, sabia que era envolvido com o tráfico e com roubos, além de outros delitos de menor poder ofensivo, mas o amor que sinto por ele é bem maior que isso tudo. Ele sempre me respeitou e respeitou nossos filhos (um casal), nunca trouxe droga pra dentro de casa, nunca trouxe roubo, tudo que ele faz é bem longe de casa. Quando ele se juntou com os outros companheiros para criar o Bonde ele me ligou e falou tudo que estava acontecendo, então, eu sempre soube do que ele faz, mas não me importo. O mais importante disso é que temos uma vida confortável, nossos filhos tem tudo o que querem, temos uma casa boa, carro e dinheiro”, disse a estudante universitária que cursa direito em uma universidade particular em Rio Branco.
 
A esposa do líder disse ainda que a facção tem uma organização semelhante a de uma empresa, com cada membro com uma função bem definida. Ela revelou também que o B13 tem hoje no Acre quase mil membros e que a sua maioria são pessoas acima de qualquer suspeita. “Os líderes trabalham em uma espécie de conselho, onde as decisões são tomadas em conjunto. Hoje todo bandido quer fazer parte do Bonde, mas o grupo tem se organizado a cada dia, cada vez mais tem pessoas querendo ‘trabalhar’ para o B13, hoje tem quase mil pessoas na rua que fazem parte do grupo, muitas delas pais e mães de família, jovens universitários, que atuam em outras atividades que não são o tráfico e nem o assalto”, revelou a jovem enfatizando ainda que a organização criminosa está um passo a frente das forças de segurança pública estadual.

Agepens em alerta

A notícia da reunião com as lideranças dos grupos criminosos rapidamente se espalhou pelos grupos de whatsApp dos operadores de segurança e deixou vários setores da Segurança Pública acreana em alerta, entre ele os agentes penitenciários (agepens). O sindicato da categoria emitiu um comunicado alertando os agepens para qualquer tipo de ação contra a categoria.


De acordo com Adriano Marques, presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Acre (Sindap/AC) é preciso que todos se mantenham em alerta e tenha cautela permanente. 
“Não queremos que aconteça com os colegas o que aconteceu no passado quando vários agepens foram mortos de forma covarde. É preciso que fiquemos alerta, já que as reuniões dos lideres criminosos voltaram a acontecer, e certamente essas reuniões são para planejar novas ações criminosas”, disse Marques.

Fonte:  http://www.jornalopiniao.net/2016/index.php/policia/1715-policia-monitora-reuniao-de-lideres-de-faccoes-na-estrada-do-barro-vermelho

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