Consta na ação que em maio deste ano os policiais federais tentaram entrar sem pagar em uma casa noturna de Porto Velho, alegando que estavam em serviço. O dono do estabelecimento argumentou que eles não aparentavam estar a trabalho, pois estavam embriagados, um deles trajava bermuda e chinelos e não mostraram nenhuma ordem de missão.
Sentindo-se desrespeitados com a negativa do ingresso gratuito, os policiais federais deram voz de prisão ao proprietário. Seguranças do estabelecimento tentaram impedir a prisão, mas um dos policiais sacou uma arma. Por fim, o proprietário e dois seguranças da boate foram presos. Os frequentadores do estabelecimento reclamaram da atitude dos policiais e ouviram dos agentes que também seriam presos por desacato.
Para o MPF, “ainda que os policiais estivessem mesmo em serviço, eles se excederam de forma desproporcional e irrazoável; chegando ao extremo de sacar arma de fogo e a apontá-la na direção de outras pessoas, além do que estavam sob a influência de álcool”.
A ação aponta que os policiais federais desrespeitaram normas e princípios que norteiam a atividade policial e o serviço público. O MPF pede que os três agentes sejam condenados à perda do cargo, suspensão de direitos políticos, multa e a outras penalidades previstas na Lei de Improbidade Administrativa.
Carteiradas
O uso do cargo público para ingressar em casas noturnas sem pagar entrada foi tema de uma recomendação do MPF à Polícia Federal, à Penitenciária Federal de Porto Velho e a estabelecimentos noturnos de entretenimento. A recomendação buscou coibir os abusos. Conforme apuração do MPF, a carteirada estava tão corriqueira que os agentes públicos passaram a querer entrada livre também para seus acompanhantes e consumo de bebidas e comidas sem pagar.
Além da recomendação, o Ministério Público Federal também produziu um cartaz explicativo sobre a prática irregular da carteirada e fez reunião com os proprietários de estabelecimentos noturnos de Porto Velho, com o propósito de orientá-los.
Para o procurador da República Reginaldo Trindade, autor das medidas, “a Polícia Federal presta serviço relevante demais ao país para ter seu nome vinculado a condutas tão inadequadas. No caso específico, os agentes queriam entrar sem pagar; haviam ingerido bebidas alcoólicas, conforme vários depoimentos colhidos; sacaram arma de fogo, colocando em risco a vida das várias pessoas que estavam na boate para se divertir; ficaram desafiando os seguranças do local e, ainda, quando o dono e dois de seus empregados estavam presos na Superintendência da Polícia Federal, passaram a ridicularizá-los e a ameaçá-los, dizendo que, se fosse no Rio de Janeiro, seria diferente. Ou seja, agiram de forma divorciada daquela imposta pela dignidade e decoro dos seus cargos”.
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