domingo, 20 de abril de 2014
"Querem nos descredibilizar para não denunciarmos o colapso nas prisões", diz sindicalista
Eu trabalho com o produto final da segurança pública, com tudo aquilo que deu errado, diz Marques.
Para o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Acre, Adriano Marques, as constantes críticas postadas em redes sociais, o travamento das negociações com o Executivo e a não realização de
uma audiência pública, cujo requerimento foi aprovado há mais de um
ano, são formas usadas pelo atual governo para que os agentes
penitenciários não denunciem publicamente o que ele denomina de caos no
sistema penitenciário.
“Tem muita coisa errada que os agentes
sabem e que ninguém quer admitir. Não querem que as pessoas saibam da
verdade, mas não irão nos calar”, diz.
Adriano diz que o sistema penitenciário acreano está à beira de uma colapso dada a superlotação nos presídios e a falta de estrutura de segurança
e pessoal, além da falta de políticas públicas eficazes que visem
reduzir a população carcerária ou, ao menos, garantir o princípio da
proporcionalidade entre o número de agentes e o de presos.
À reportagem da Agência ContilNet, o
sindicalista lamentou o fato de, nesta terça-feira (15), ter completado
um ano da aprovação do requerimento de autoria do deputado Moisés Diniz,
que propôs a realização de uma audiência pública, sem que o evento
tenha sido realizado.
“Tantas audiências já foram realizadas
ao longo deste ano em que essa da segurança pública foi aprovada, mas a
que desejamos não foi concretizada. O governo, com manobras dentro da
Assembleia Legislativa, tem impedido que a audiência pública seja
realizada. Em 12 anos, nenhuma audiência sobre o assunto foi resolvida.
Por que?”, questiona o sindicalista.
A respeito do fechamento do canal de negociação com o governo, Adriano diz que a categoria tem sido tratada com descaso ao expor suas necessidades.
“Todos sabem que precisamos de
fardamento, armamento, mais pessoal para dar conta do aumento no número
de presos, entre outras coisas, mas o governo faz questão de ignorar
solenemente nossas queixas. Como se, negando a ouvir-nos, o problema irá
desaparecer. Tiveram a coragem de nos pedir para parar de reivindicar
para que em 2015 nossas pautas começassem a ser atendidas. Interpretamos
isto como piada”, declara.
Eu trabalho com o produto final da segurança pública, com tudo aquilo que deu errado, diz Marques
No dia 10 de junho de 2002, Adriano Marques ingressou no serviço de agente penitenciário, logo após ter sido desligado da função de policial temporário, cargos de emprego temporário criado no governo petista. À época, ele tinha pouco mais 20 anos e o
presídio Francisco de Oliveira Conde (FOC) tinha pouco mais de 700
presos. Após 12 anos, o jovem Adriano, de 34 anos, continua na função
para a qual foi aprovado via concurso, com os mesmos sonhos, a mesma
garra e apenas um pouco mais cansado.
O local de trabalho dele sofreu um
inchaço populacional, apesar de não ter sido construído nem mais um
metro quadrado. Em 2014, a média de presos no Francisco de Oliveira
Conde é de mais 4.300.
Este aumento de mais 500 % na população
carcerária face à manutenção do número ínfimo de agentes, é uma das
principais reclamações de Adriano, que teme que possa haver uma
catástrofe dentro da unidade prisional.
“É um barril de pólvora. Todo dia eu oro
para que não haja mortes lá dentro. É bem complicado, porque
trabalhamos com o produto final da segurança pública, com tudo aquilo
que deu errado, e as pessoas não entendem que deve haver uma atenção
maior sobre esta área da segurança pública”, declara.
Não somente o número de agentes é
desproporcional ao de presos, segundo Adriano. Com um ofício em mãos,
assinado por um dos diretores do Instituto de Administração
Penitenciária (Iapen), onde dá ciência ao diretor da Unidade de Regime
fechado número 1 que no dia 27 de março não houve condução de presos
para a unidade de saúde interna por falta de agentes em número
suficiente.
Adriano diz que não é de hoje que a
direção conhece a real situação do sistema. “Os documentos do próprio
Iapen mostram a situação absurda que é estes 12 agentes ficarem
responsáveis por custodiar os 1300 presos, reclusos naquela unidade
prisional”, declara.
Querem nos fazer motivo de piada
Indignado, Adriano diz que considera
absurdo o descaso com que são tratados pelos representantes do poder
público. Ele relembrou a história em que, supostamente, o governador
Tião Viana (PT) teria recomendado que um agente penitenciário comprasse,
com recursos próprios, um cadeado para uma viatura que transportava um
preso.
“Quer dizer que agora teremos que fazer cotinha do nosso próprio bolso para comprar produtos e equipamentos?”, questiona.
Marques afirmou à reportagem da Agência
ContilNet que os diretores do Iapen formaram um grupo no WhatsApp,
aplicativo de telefonia móvel para troca de mensagem, para fazerem
piadinha e montagem sobre o serviço dos agentes.
"São montagens, denegrindo a categoria. Fazendo piada de mau gosto com um assunto bem sério”, declara.
Fonte: http://www.contilnetnoticias.com.br/index.php/noticias-gerais/6081-querem-nos-descredibilizar-para-que-nao-denunciemos-o-colapso-que-se-instalou-no-sistema-penitenciario-diz-adriano-marques
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