Adriano Marques – De forma nenhuma. Sou defensor de um sistema prisional minimamente estruturado, e de condições dignas para os nossos agentes trabalhar sem correr risco de morte. O Acre é responsável pela total falta de planejamento estratégico. O Acre tem, proporcionalmente, a maior população carcerária do Brasil. O estado não se deu conta de que ali, nos presídio, está tudo aquilo que não deu certo na sociedade. Foi preciso o Exército emprestar fuzis para a polícia agir nessa última rebelião. Cada viatura deveria ter um fuzil. O estado não possui essa arma, nem se planejou para comprar, enquanto as facções estão muito melhor servidas em termos de armamento.
quarta-feira, 26 de outubro de 2016
Sindicalista relata negociação do estado com facções e crê no financiamento do crime por políticos
Em 1998, o então delegado da Polícia
federal Protógenes Queiroz causou reboliço no meio político e nos
corredores do Judiciário ao afirmar, em entrevista coletiva, haver, no
Acre, um juiz traficante e um desembargador viciado. À época, a
associação que representa a magistratura acreana repudiou as declarações
do delegado, mas nenhuma investigação prosperou e as palavras do
policial, ditas em sua passagem pela Superintendência da PF no estado,
não passaram de um grande constrangimento às elites locais. Queiroz, que
vive na Suíça em razão de asilo político, identificou, naquele ano,
mais de 980 pontos de drogas (bocas de fumo) no Acre.
A reportagem relembrou as declarações do delegado para repercutir
revelações exclusivas, feitas pelo presidente do Sindicato dos Agentes
Penitenciários do Acre, Adriano Marques. Ele é categórico ao afirmar que
o Estado negocia com as facções e relata que o custeio do crime pela
classe política não é uma exclusividade dos centros mais avançados do
país. Leia os principais trechos da entrevista.
Veja política – Como é a negociação do estado com líderes de facções?
Adriano Marques – Eu provo. Representantes
da direção dos presídios fizeram várias reuniões com os líderes das
organizações criminosas. Foram encontros que duraram mais de uma hora.
Em seguida, foi dada ordem para que presos mais ligados a essas facções
fossem retirados, em datas e horários pré-estabelecidos.
Foi um acordo de paz? Nós não sabemos o que discutiram ali dentro.
Por que alguns membros de facções têm televisores em suas celas? O
governo precisa admitir seus erros, ouvir críticas construtivas. Nós
fizemos a nossa parte. O Ministério da Justiça já foi informado, bem
como o Ministério Público.
Políticos financiam o crime organizado?
Para combater o tráfico, é preciso conseguir mandado de prisão para
invadir mansões. Esta não é uma realidade somente do Acre. Tem uma
estrutura do estado que financia crimes, e os crimes financiam campanhas
políticas. Eu gostaria de ter a estrutura de um policial federal, por
exemplo, para poder te dar todas as provas sobre isso. A lava Jato está
comprovando, dentre outras situações, que criminosos se disfarçam de
empresários ou políticos e vice-versa para cometer ilícitos. O PCC no
país movimenta mais que qualquer multinacional. Há pessoas muito bem
instruídas por trás disso tudo fazendo lavagem de dinheiro.
Veja política – Você é inimigo do estado?
Adriano Marques – De forma nenhuma. Sou defensor de um sistema prisional minimamente estruturado, e de condições dignas para os nossos agentes trabalhar sem correr risco de morte. O Acre é responsável pela total falta de planejamento estratégico. O Acre tem, proporcionalmente, a maior população carcerária do Brasil. O estado não se deu conta de que ali, nos presídio, está tudo aquilo que não deu certo na sociedade. Foi preciso o Exército emprestar fuzis para a polícia agir nessa última rebelião. Cada viatura deveria ter um fuzil. O estado não possui essa arma, nem se planejou para comprar, enquanto as facções estão muito melhor servidas em termos de armamento.
Veja Política – A situação vai piorar?
Adriano Marques – Acredito que muitos
criminosos estejam vindo para cá. Nós estamos expostos, fragilizados, em
estado de guerra, e isso não é novidade para ninguém. Rio Branco e
Cruzeiro do Sul já poderia ter os seus blindados, os conhecidos
caveirões. Os PM´s são verdadeiros heróis. Eles dão o melhor de si. A
minha crítica é ao estado. Ali, naquele embate contra as facções, muitos
militares não usavam coletes, nem capacetes. Isso é um absurdo sem
precedentes.
Fonte: http://www.vejadetudo.com.br/politica/sindicalista-relata-negociacao-do-estado-com-faccoes-e-cre-no-financiamento-do-crime-por-politicos
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